Hoje e que estamos perto do fim de semana Pascal, trago um roteiro que pode dar muito jeito a quem vai para fora, nomeadamente, para a capital francesa. Saiu esta semana, um roteiro um pouco invulgar sobre a capital francesa, passo a transcrever o referido roteiro, mas não vou tecer nenhum comentário, por se tratar de uma sugestão de férias Pascais.
«Esta Paris você não encontra nos guias
E mesmo que pergunte, não vai encontrar. Um roteiro pelos locais mais alternativos da cidade
“É isto aqui?”, pergunta Becca, uma executiva de marketing australiana de 34 anos, ao mesmo tempo que inspecciona a fachada de um elegante prédio do século XIX num bairro perto do Louvre. O seu companheiro, Charlie Fox, um consultor britânico de 40 anos, espreita lá para dentro igualmente perplexo. O par procura um estranho que os ajude. Mas tudo o que posso oferecer é um encolher de ombros. Estou tão perdido quanto eles e não é de admirar: o sítio que andamos à procura chama-se Hidden Kitchen, um restaurante-clube privado que – fiel ao nome – não é sinalizado com um resplandecente néon. Algures num destes prédios, um jantar gastronómico de dez pratos espera por nós e mais uma dúzia de clientes que fez a reserva na Internet. Mas onde é o raio do restaurante?
Dica: ginecologista
Esta é, por estes dias, a pergunta mais murmurada pela capital francesa. Escondidos em apartamentos privados, edifícios não identificados, becos sem saída e cavernas no subsolo, uma mão cheia de novos locais tem crescido nas sombras da Cidade da Luz, criando a moda das moradas furtivas, mapas desesperadamente abertos e pedidos de direcções.
Numa ponta do espectro estão pequenos restaurantes-clubes como o Hidden Kitchen e o ainda mais obscuro Chez Nous, Chez Vous, o rebento de um casal brasileiro que trocou os empregos sem saída no seu país natal pela formação como chefes na escola Le Cordon Bleu. Mas há mais, como veremos.
Em conjunto, esta nova colheita de locais para comer ou dormir forma uma espécie de Paris privada – que paira abaixo do radar turístico normal e corre não só de boca em boca, mas também na blogosfera global. Para os que estão por dentro, a recompensa é uma experiência parisiense especial. Para os proprietários, estar fora da vista do público e restringir o acesso oferece maior autonomia e muito mais intimidade com os clientes. Nesta Paris, a discrição é valorizada acima da ostentação e uma atmosfera familiar é bastante mais apreciada do que o apelo das massas.
“Mais do que uma oportunidade para cozinhar, queríamos apenas ter a oportunidade de fazer amigos”, afirma Braden Perkins, um americano que, com a sua namorada, Laura Adrian, começou a Hidden Kitchen – eu e os meus dois novos conhecidos lá acabamos por encontrar (dica: procure um prédio com a porta encarnada e uma tabuleta de consultório de ginecologista).
Na Adega de Luis XV
À medida que os convidados bebem e conversam na sala de jantar, iluminada à luz de velas, Perkins dedica-se aos preparativos finais na cozinha e explica que ele e Adrian trocaram Seattle por Paris em 2007 sem qualquer plano de carreira ou contactos em França. Embora ambos adorassem comida, o casal, de vinte e poucos anos, nunca trabalhara numa cozinha de restaurante. “Pensámos em fazer isto uma vez por mês, convidar alguns estranhos, ter pessoas porreiras à mesa, conversar e, a partir daí, conhecer novas pessoas”, diz, enquanto mexe o molho para um ravioli de fígado de frango. O conceito depressa pegou e, agora, o casal serve dois jantares por semana por 80 euros. O menu – que Perkins descreve como “novo americano, pan-europeu” – muda todos os meses.
E o vinho, essencial numa boa refeição francesa? Para encontrar boas garrafas, regresso à zona do Louvre, passo por debaixo de um arco escuro na Rue de l’Arbre Sec, atravesso um pátio aberto e desço umas escadas mal iluminadas antes de entrar numa caverna de pedra. Sou recebido por Olivier Magny, um francês de 29 anos jovial e de conversa rápida. Tal como os criadores do Hidden Kitchen e do Chez Nous, Chez Vous, abandonou a sua carreira anterior – estudante de gestão – para seguir o sonho: ensinar aos estrangeiros as complexidades dos Burgundies, Sauternes e ziliões de outros vinhos franceses.
Em 2004 fundou O Chateau, uma empresa de provas de vinho, que começou a organizar eventos no lugar mais barato e confortável que conseguiu encontrar: o apartamento dos pais. Pouco depois, passou para o seu próprio apartamento. Em Janeiro de 2009, a empresa já tinha crescido tanto – 15 a 20 provas de vinho, almoços, cruzeiros de Champagne e outros eventos por semana – que ele tornou o seu negócio literalmente subterrâneo. Apropriadamente, o espaço no subsolo, conhecido como Les Caves du Paradis, foi, há muito tempo, a adega privada do Rei Luís XV, que vivia ali perto, no Louvre. Embora a empresa O Chateau começasse a aparecer nos guias, a localização da cave é ainda algo clandestina. “Gosto de estar fora do roteiro turístico de Paris”, explica.
Tratar da saúde
Se uma noite de vinho vos deixa arrasados e desgrenhados na manhã seguinte, pode tentar reservar um lugar no La Nouvelle Athenes, um dos vários salões de beleza e saúde fora do radar que têm despontado pela cidade. Mas soluções mais radicais, esperam-nos atrás da grande porta dupla de madeira no número 217 da Rue Saint Honoré. Ali, subindo alguns lanços de escadas, esconde-se um encantador apartamento de seis divisões que acolhe um instituto de bem-estar: o L’Apartment 217, dirigido por Stéphane Jaulin, um veterano dos cosméticos Kiehl’s e Guerlain. Os produtos naturais feitos por encomenda que ali estão à venda deixam-me maravilhado. Um deles, um recipiente de 50 mililitros com creme anti-envelhecimento, foi feito a partir de 32 ingredientes (incluindo figos, extracto de chá e cafeína) e custa uns estarrecedores 145 euros. Outro, a Lotion des Fleurs Actives (um creme facial feito a partir de flores) custa uns mais modestos 38 euros.
Créme de la Créme
Longe das suadas multidões burguesas, o novo e mais inovador local da “Paris privada” está escondido entre os boulevards de néon e os cinemas pornográficos de Pigalle, o famoso “red light district” da cidade. Para o encontrar, procure pelo beco que fica entre o Le Soleil de Marrakech (uma tasca de couscous barata) e o cinema marcado com sinais de “Table Danse” e “Live Show”. A passagem, com pavimento calçado, leva-o a uma casa moderna conhecida como Box in Paris. Fundado por Aline Geller, agente de artistas contemporâneos, o local é tão difícil de catalogar como é de encontrar.
“Não quis fazer apenas mais uma galeria, porque isso é conceito morto”, afirma Geller. Em vez disso, criou em 2007 um espaço “polidisciplinar” que mistura arte, comida, hospitalidade e performance. Como seria de imaginar, pode ver uma exposição de arte à tarde; assistir a um filme, uma leitura ou um concerto rock à noite; passar a noite num dos dois quartos para alugar (mobilados como um quarto de hotel de charme); e acordar para o pequeno almoço (confeccionado pela própria Geller).
Se, por acaso, for a um dos jantares públicos mensais do The Box, pode dar por si sentado ao lado de uma americana de meia idade e cabelo curto chamada Grace Teshima. E se ela o convidar para uma das exposições de arte que organiza mensalmente no seu apartamento na vizinha Montmartre, conhecido na cidade como Chez Grace, será iniciado numa das melhores experiências de Paris. “Há tantos artistas que necessitam de mostrar o seu trabalho e uma grade falta de galerias – é um bocado vergonhoso”, lamenta Teshima na noite de abertura da exposição de uma pintora britânica chamada Louisa Dusinberre. Teshima está sentada na sua cama, repleta de casacos dos visitantes.
Entre a sua sala de estar e sala de jantar – ambas largamente esvaziadas de mobília e equipadas com guias de luz para uma melhor visão – cerca de 30 pessoas bebericam merlot e conversam em francês e inglês enquanto contemplam as naturezas mortas da artista. Teshima explica que começou o Chez Grace em 2005 e organiza várias exposições por ano. O objectivo é, em parte, criar um espaço sem a pose e a atitude que tornam o meio galerista de Paris desagradável.
Como se estivesse combinado, Dusinberre irrompe pela sala com um olhar de pânico. “Precisamos de mais vinho!”, grita.
Teshima ri-se, abana a cabeça e revela um dos segredos chave para a criação de um negócio público na sua residência privada. “A determinada altura, temos de deixar que o vinho acabe”, diz, sabiamente. “De outra forma, as pessoas ficam até às duas da manhã.”»
In: http://www.ionline.pt/conteudo/53170-esta-paris-voce-nao-encontra-nos-guias, a 30 de Março de 2010, em Jornal I
Bom Roteiro!
RT