Hoje e para não me pensarem que seja pessimista, deixo-vos o comentário do Rui Reininho, quem não conhece é o vocalista dos GNR.
Rui Reininho, Músico
Finalmente, e a um preço acessível, um barril de ternura, crude e amor. Na Arábica goma e Saudita diz que o petróleo é eterno uno e indivisível, que resiste à fusão e à explosão.
Mas não resiste à mentira, tal como o amor, vários milénios, caixas e montes pios tentam investigar porque tudo morre, porque não o levarás contigo, salvo o amor; tá bem, algum respeito, estima, amizade ou uma vontade de ter relações furtivas com pessoas desconhecidas do grande público ainda se safam. Mas na grande arca de Cloé, de onde vimos e para onde vamos e nos viramos sem tugir e nem mugir, malta, não se sabe…
O amor, esse, nunca fica feito, como se o grande empreiteiro da humana idade pretendesse ter sempre a obra em aberto; esse tal de amor desfaz mais do que se faz camas, mesas, roupas lavadas, tudo se destrói num vortex insano, numa voracidade de sentidos e impérios de sentados e de posições com que os missionários se familiarizaram.
Então é assim, como se dizia na capital, vem aí um bigbang. Sem amor, mas com raiva, a petroleira remendada de petrolífera mais aromática do país ameaça a Leça da Palmeira, segundo os fecundos Expensive Soul a terra mais bonita, poluta de Portugal (Ver “Eu não Danço”, clip que transforma a refinaria num golfe descapotável, cabrio e olé!).
Os gajos da Galp fecharam a praia durante um ano e meio, meteram os tubos que ninguém deveria pisar debaixo da estrada, alcatroaram as margens, fazem descargas à má-fila, rebentam com tudo ciclicamente, tentam mandar a CGTP para Sines, vendem os terrenos circundantes, escondem-se em inquéritos enquanto os operários arriscam a pele, pagam sub-repticiamente tratamentos a quem se queixa de mal-estar respiratório e desistiram de fazer um festival – lavagem de música só em Português.
Com a bunda para a Lua, agora saiu-lhes o PetroBrasil de bónus mas ninguém veio dizer que o combustível vai baixar!
É por essas e por outras que o pessoal ainda chama SACOR à praia em frente, como no tempo do “faxismo”. Por muita maquilhagem que a velha senhora ponha, ela será sempre uma meia desfeita, amor.
Rui Reininho escreve no JN, semanalmente, aos sábados
Retirado na integra de: http://jn.sapo.pt/2007/11/17/opiniao/desfazer_amor.html
Reininho obrigado por não me deixares solitário…
RT